Carreira: novos rumos em tempos de transformações

A única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova.

(Fernando Pessoa)

O tempo não para e as transformações de ordem mundial estão cada vez mais aceleradas. Vivemos grandes transformações que afetam as economias globais e regionais, ao meio ambiente como um todo, as instituições e aos indivíduos.

Claro que essas grandes transformações da chamada quarta revolução industrial, afetam os mercados e suas relações, impactando o mercado de trabalho e trazendo reflexos com índices crescentes desemprego e de recessão.

Em recente publicação a Organização Internacional do Trabalho discorreu sobre o Futuro do Trabalho no Brasil e trouxe considerações centradas na relação entre novas tecnologias, globalização e relações de trabalho, destacando-se, com base em pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, que apontou que 47% dos empregos, tendo como base nos Estados Unidos, podem ser computadorizados, dentre as profissões de motorista e de advogado, que se tornarão substituíveis por tecnologias de robótica e da informação (OIT, 2018).

Sabido é que as relações de trabalho e o nível de desemprego mundial seguem desafiando as políticas econômicas e sociais. A pesquisa, elaborada pelo Fórum Econômico Mundial em 2018, identificou os grandes fatores de mudanças nas profissões da atualidade e futuras tendências na demanda de empregos, com a expectativa de que até 2020, haverá uma queda de mais de 7.1 milhões de empregos devidos a mudanças no mercado, que atingirão não somente setores de mão de obra menos qualificada, como também as funções de escritório e de áreas administrativas.

Atualmente, inteligência artificial, tecnologia de energias renováveis, internet das coisas, serviços on demand, como Uber, Netflix, já são uma realidade que abrem as portas para novas oportunidades no mercado de trabalho. Nesse sentido, a transformação digital tem impactado os padrões de atividade, de interação humana e de produção em ritmo e escala sem precedentes (IPEA, 2019).

Diante da instabilidade, seja na vida ou na profissão, temos que reagir, seja por um empurrãozinho, contra nossa vontade, ou por nossas próprias escolhas.

Um convite para mudar!

Em todo processo de mudança somos convidados a enxergar a realidade e a fazer análises profundas com a busca pelo autoconhecimento.

As previsões menos otimistas, acabam por afetar a vida das pessoas e das organizações, que se moldam e se adaptam para crescerem sob forte pressão externa e em decorrência da própria necessidade de buscarem soluções tecnológicas e mecanismos inovadores para se manterem competitivas e lucrativas, bem como para se adaptarem a novos modelos de gestão.

Os ciclos de incertezas frente ao futuro, a imprevisibilidade no ambiente dos negócios e de mudanças organizacionais despertam reações comportamentais das mais diversas ordens, por vezes gerando sentimentos antagônicos, visto por alguns como oportunidade e por outros como ameaça.

Aqueles que entendem que essa revolução é ameaçadora, convivem com o medo da perda de seu emprego e, ainda, tem que lidar com as pressões do dia a dia diante das altas exigências impostas por seus empregadores, fatores que desencadeiam em desmotivação e desânimo.

Diante da falta de visão para escolhas mais adequadas, muitos acabam se acomodando e esperando para ver o que acontece e, num certo dia, dentro desse horizonte limitado, podem se encontrar na fila do desemprego e do desespero, sem ao menos terem se preparado para enfrentar tais mudanças, que de certa forma já são previsíveis.

A outra vertente, diz respeito às pessoas que lidam melhor com os cenários de crise e de instabilidade, buscando dentro do próprio contexto organizacional, se reorganizar e encarar com maior rapidez os desafios impostos pela gestão, principalmente, em organizações que privilegiam o capital humano, buscando nesse contexto novos aprendizados, ampliação de competências e novas habilidades, sejam elas de ordem técnica e comportamental.

Por outro lado, enxergo um outro fenômeno de mudança que, nos dias de hoje é bastante frequente, seja pela perspectiva de incertezas no mercado de trabalho em que atua, pela insatisfação financeira no cargo que ocupa ou mesmo por questões pessoais, diante da necessidade de novos desafios e do desejo de alcançar um novo propósito profissional ou qualidade de vida, daqueles que desejam enfrentar, mesmo em cenários de crise, uma transição de carreira, optando por vontade própria a não mais permanecer no emprego.

Tal movimento de ser planejado e algumas perguntas são imprescindíveis: o que o mercado exige? estou preparado para atender a tais exigências? Quais habilidades que preciso ter para alcançar os meus objetivos profissionais e quais competências preciso desenvolver? Como posso alcançar meus objetivos no curto e médio prazo?

Esses profissionais, normalmente, passam por processos de reflexão, de autoconhecimento e são orientados ao planejamento financeiro de longo prazo, ao próprio planejamento de carreira e pessoal. Muitos, ainda, buscam apoio de profissionais do coaching e de mentoria, que oferecem ferramentas para o desenvolvimento profissional e pessoal destes.

Seja qual for a motivação pelo desejo de mudança, quer para continuar atuando na organização ou para alçar voo em novos projetos, deve ser precedido de passos para suportar as dificuldades que poderão existir no processo de transição de carreira, avaliando as melhores opções e áreas promissoras, principalmente diante dos cenários futuros de mudança no mercado de trabalho e das inovações tecnológicas.

É possível concluir que todo o indivíduo tem a oportunidade de escolha e pelo seu livre arbítrio ele pode ser autor de sua própria história, tendo a possibilidade de permanecer estagnado ou de se atualizar, passar por uma transição de carreira para atuar no mercado corporativo em uma nova especialidade ou empreender. Para tanto, seja qual for a opção é fundamental a busca do autoconhecimento, reflexões para o fortalecimento de suas crenças, valores e potencialidades, conhecer bem suas habilidades técnicas e comportamentais, saber identificar atitudes e crenças limitantes e fazer um bom planejamento financeiro e pessoal para se saber aonde quer chegar.

Contar com profissionais de mentoria e de coaching será uma escolha feliz. Se seu caminho for pela carreira corporativa, deve-se adicionalmente buscar o alinhamento com os valores e propósitos da nova organização na qual se pretende fazer parte. Se optar por empreender, deve-se ter em mente que o caminho não é simples, pois requer planejamento, estudo de mercado e aprimoramentos comportamentais.

Para os novos rumos ao sucesso além de um bom plano, é recomendável altas doses de proatividade, otimismo, insistência, determinação e coragem.

Referências:

BLOCH, Vichy. Crescendo na Tempestade: Crise e Transição de Carreira. GVExecutivo, 2015.

POSTHUMA, Anne Caroline. Mercado de Trabalho: conjuntura e análise - O Relatório da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho: Uma breve contextualização. Instituto de Pesquisa Aplicada Econômica Aplicada - IPEA, 2019.

ZYLBERSTAJN, Hélio. Futuro do Trabalho no Brasil: Perspectivas e Diálogos Tripartites - Novas tecnologias, globalização e relações de trabalho. Organização Internacional do Trabalho – OIT, 2018.

Global Challenge Insight Report: The Future of Jobs Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution January. Fórum Econômico Mundial. 2016.

Transição de Carreira: Guia Completo Para Recolocação. 22/02/2019 <https://fia.com.br/blog/transicao-de-carreira/>, acesso em 03/07/2019.

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